ATA DA TRIGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 29-08-1989.

 


Aos vinte e nove dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Segunda Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadã Emérita à Sra. Ione Pacheco Sirotsky. Às dezessete horas e nove minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Jornalista José Antonio de Dios Vieira da Cunha, Secretário Especial de Comunicação Social, representando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul; Sra. Judith Dutra, Presidente do MAPA, representando o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; Sra. Ione Pacheco Sirotski, Homenageada; Sra. Rita Sirotski, Matriarca da Família Sirotski; Dr. Jair Soares, ex-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; Prof. Tuiskon Dick, Vice-Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Dra. Cléa Anna Maria Carpi da Rocha, Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Rio Grande do Sul; e Ver. Wilton Araújo, 2º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre. Em prosseguimento, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo, destacando a importância e a relevância do trabalho realizado pela Fundação Maurício Sirotski Sobrinho, na área social e cultural, para a comunidade deste Estado, enfatizando a atuação da Homenageada frente a essa Fundação. A seguir, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Wilton Araújo, como autor da proposição e em nome das Bancadas do PDT e do PL, discorrendo sobre as razões que o levaram a propor tal homenagem, afirmou ter sido uma solicitação dos moradores da Vila Maria da Conceição quando da campanha eleitoral para Vereador. Enumerou os Projetos realizados pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho e o quanto a atuação da Sra. Ione Pacheco Sirotsky tem beneficiado o setor da população menos aquinhoado. O Ver. Artur Zanella, em nome da Bancada do PFL, afirmou que a concessão do Título Honorífico de Cidadã Emérita à Sra. Ione Pacheco Sirotsky é uma homenagem justa, tendo em vista o trabalho desenvolvido em prol da resolução dos problemas sociais da comunidade deste Estado. O Ver. João Dib, em nome da Bancada do PDS, destacou o papel da mãe e da mulher na atuação da Sra. Ione Pacheco Sirotsky em sua tarefa de minimizar as dificuldades do setor da população menos favorecido. Afirmou, ainda, que a homenagem de hoje é um agradecimento e reconhecimento da cidade de Porto Alegre aos serviços prestados pela Homenageada. O Ver. Omar Ferri, em nome das Bancadas do PSB, PCB e do PT, salientou as obras realizadas pela Fundação Maurício Sirotski Sobrinho, afirmando que a Sra. Ione Pacheco Sirotsky, através da direção desta Fundação, ocupa um espaço social de luta com larga visão de conteúdo e perspectiva social. O Ver. Edi Morelli, em nome da Bancada do PTB, destacou a atuação da Homenageada como mulher, à frente da sua família e como dirigente da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho que, segundo S. Exa., é um papel que exerce com a sensibilidade de mãe. E o Ver. Clóvis Brum, em nome da Bancada do PMDB, congratulou-se com o Ver. Wilton Araújo pela iniciativa, e salientou que o trabalho desenvolvido pela Homenageada, na área cultural e social, justifica plenamente o recebimento do Título Honorífico de Cidadã Emérita desta Cidade. A seguir, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, a assistirem à entrega do Título Honorífico de Cidadã Emérita à Sra. Ione Pacheco Sirotsky, concedido através do Projeto de Resolução nº 05/89 (Proc. 1145/89), pelos netos da Homenageada e pelo Ver. Wilton Araújo. Após, a Sra. Ione Pacheco Sirotski agradeceu a concessão do Título, destacando o significado de tal homenagem, e conclamando a todos que unam os esforços para trabalhar em prol do bem comum dos habitantes deste País. Em continuidade, o Coral da RBS, sob a regência do Maestro Luis Alberto Bucholz, interpretou dois números musicais. Durante a realização da Sessão o Sr. Presidente registrou a presença de diversas autoridades e personalidades no Plenário. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente encerrou os trabalhos às dezoito horas e quarenta e nove minutos, convidando as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência desta Casa, e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Wilton Araújo. Do que eu, Wilton Araújo, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após ser lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 

O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Declaro abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a outorgar o Título Honorífico de Cidadã Emérita à Sra Ione Pacheco Sirotsky. Esta homenagem foi requerida pelo Ver. Wilton Araújo e aprovada pela unanimidade dos membros desta Casa.

Solicitamos aos Srs. Líderes de Bancada que introduzam no Plenário as personalidades e autoridades convidadas.

Registramos, com prazer, a presença dos familiares da nossa homenageada, Dr. Jaime Sirotsky e esposa, Sr. Nelson Sirotsky e esposa.

É, exatamente, a grande implementadora da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, sua Presidente, Dona Ione Pacheco Sirotsky. Eu repito, Bacharel, porque quando estava na Secretaria do Governo, o ex-Prefeito Alceu Collares sempre dizia: “Minha colega Bacharel Ione Sirotsky”. Quando falávamos em Dona, ele corrigia: “Não colega Bacharel”. Podemos colocar, tranqüilamente, homenageada, já com algum atraso, a empresa administrada dentro dos mais modernos conceitos gerenciais, a nossa RBS.

Aqui está o discurso, e eu me perdi no discurso, e estou com vontade de dizer apenas uma coisa: eu lembro, conheci a Dona Ione quando o nosso querido Maurício foi homenageado pela Escola de Samba Imperadores do Samba e chegou a Dona Ione com o Maurício, com toda a sua simplicidade. O Maurício ali, satisfeito, e a escola passando e a Dona Ione ali tranqüila. Hoje, ao meio-dia, eu pensava na Dona Ione: nós temos a Dama de Ferro tão comentada no mundo inteiro, e, fora do discurso e não querendo mais ler o discurso, só quero dizer que a Dona Ione é a Dama de Pérola, pela tranqüilidade. Naquela noite, eu só imaginava que um homem com 99% de virtudes deveria ter alguns probleminhas que a Senhora deveria segurar na retaguarda com muita firmeza, como está segurando agora, juntamente com o seu grupo de trabalho da nossa RBS, da nossa Rádio Gaúcha. Por isso, fiquei um pouco tenso e, quando passava pela Doutora Ione, eu disse: não fique nervosa, porque eu estou um pouquinho mais nervoso que a Senhora.

Passamos a palavra ao primeiro orador, que é o Ver. Wilton Araújo, que fala pelas Bancadas do PDT e do PL.

 

O SR. WILTON ARAÚJO: Ver. Valdir Fraga, Presidente desta Casa, Senhora Ione Pacheco Sirotsky, homenageada, Senhoras e Senhores. (Lê.):

“Quero deixar claro, neste momento, quando a Câmara Municipal de Porto Alegre faz a entrega do Título de Cidadã Emérita à Dona Ione Pacheco Sirotsky, que a sugestão não partiu de gabinetes. Durante a campanha eleitoral do ano passado, fui praticamente interpelado em uma reunião com moradores da Vila Maria da Conceição, quando duas senhoras perguntaram se eu conhecia o trabalho da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, e sugerindo que se fizesse uma homenagem à Presidente Executiva da Fundação. A idéia foi acompanhada de diversas e conclusivas opiniões sobre o trabalho realizado por Dona Ione junto às creches. Nem sempre promessa de campanha é esquecida, e, hoje, cumpro a vontade da comunidade, frisando que o Projeto foi aprovado por unanimidade por esta Câmara.

Falo hoje, talvez pelas milhares de pessoas que foram beneficiadas nos Projetos Geração 21, Paternidade Consciente ou Projeto Colibri. E são muitas as perspectivas que se pode escolher para descrever o desenvolvimento do trabalho de Dona Ione.

Uma delas consistiria em analisar sua atuação como mentora, amiga e mãe de Maurício Sirotsky, de Suzana e Sônia, de Nelson e Pedro. Este trabalho destinado à família nunca se interrompeu. A Professora de Inglês e Latim do Instituto Educacional de Passo Fundo, que também gostava de música em sua adolescência, foi envolvida plenamente pela vida familiar, ao casar-se aos 22 anos, com Maurício Sirotsky Sobrinho. É o elemento maternal que a identifica com o mundo, e que a prepara para assumir em fase posterior, seu papel na comunidade.

Os filhos pequenos marcam anos de intenso compromisso com a família. O Radialista Maurício construía sua rede de comunicações, Dona Ione preparava, cuidadosamente, os filhos para que assumissem seus lugares na vida.

Este respeito à família, o espírito agregador, aparece em toda a trajetória do casal Maurício e Ione. A figura da “Mater Famílias”, ainda hoje se impõe, e as reuniões familiares contam agora, com os quatro filhos, as noras e os treze netos. O diálogo com a célula familiar nunca foi rompido. Maurício e Ione conseguiram manter a comunidade Sirotsky unida, apesar das dificuldades, das diferenças de temperamentos, dos projetos pessoais de cada um. Uma certa severidade marcou a educação dos quatro filhos de Maurício e Ione. Um certo profissionalismo da mãe, que sabia que tempos difíceis viriam, para eles e para as próximas gerações.

Cumprido este papel – hoje, seus filhos trabalham no Grupo RBS – Nelson é Vice-Presidente e Pedro é Diretor-Superintendente – poderia se hora de descanso, ou ficar às voltas com os treze netos, com idades que variam de 01 a 17 anos. Pois Dona Ione resolveu continuar o seu melhor papel e repassar para as comunidades, o que exerceu com perfeição: a profissão de mãe.

Ela acredita que toda a modificação social depende da mudança da mentalidade, e que esta se faz a partir da criança. Alimentação, atenção, afeto, escola, saúde são bandeiras que parecem comuns, mas que pouca gente consegue colocar objetivamente, em seu trabalho. Da teoria, Dona Ione passou para a prática, e hoje, vemos que os relatórios da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho são baseados em resultados reais.

Dissemos que são muitas as perspectivas que podem ser abordadas em torno da mulher e da cidadã Ione Pacheco Sirotsky. Lembramos, por exemplo, que em 1962, ao lado de Maurício, ela organizava a Campanha “Faça sorrir uma criança”. Liderou de 1964 a 1970 o Movimento Gaúcho pelo Menor.

Em 1982, no dia 30 de setembro, Ione a Maurício realizavam mais um sonho, ao criar a Fundação RBS, destinada a ser o braço social da Rede Brasil Sul, com projetos educacionais, culturais e sociais.

Em 1986, a família Sirotsky perde seu líder, e foi com o trabalho na Fundação que Dona Ione ameniza este trauma. Em 24 de março de 1987, a entidade recebeu o nome de seu fundador e passa a ser Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho.

Seguindo a frase: “Quem prepara a estrada somos nós que chegamos antes”, Dona Ione passa a cumprir uma longa jornada de trabalho, ao lado de profissionais, que fazem parte da Fundação. Ela mesma faz questão de frisar que não se trata de um trabalho paternalista, mas de atuar a lado da comunidade, implementando os setores mais carentes com informações, apoio financeiro, orientação.

O Paternidade Consciente é um projeto que trabalha a parte preventiva da problemática do menor, envolvendo planejamento familiar, adoção, relação pais e crianças, gravidez, aborto e problemas dos adolescentes. Visa criar uma consciência social do porquê, como e quando ter filhos e assumi-los plenamente. Vemos aí claramente a preocupação de Dona Ione e de sua equipe de trabalho, para proteger a criança, não apenas no aspecto econômico, mas na relação com os pais.

A Fundação, no Projeto Paternidade Consciente, realizou campanhas publicitárias dirigidas a oito milhões de pessoas, com mensagens de conscientização aos pais, aos menores, aos adolescentes. Foram montados 11 postos de orientação e atendimento à saúde da mulher, e distribuídas 200 mil cartilhas sobre planejamento familiar. Com este Projeto, a Fundação recebeu o Prêmio ECO.

No Geração 21, a preocupação é buscar caminhos e alternativas para os menores carentes, procurando torná-los cidadãos produtivos. Para desenvolver este programa, a Fundação recebe o apoio legal e técnico do Juizado de Menores do Rio Grande do Sul e da Associação Brasileira de Juízes e Curadores de Menores.

Neste aspecto ressaltamos o trabalho é baseado em pesquisa, estudos, nada é empírico. Dona Ione frisa: “Ninguém inventa projetos, só lançamos programas depois de receber levantamentos, estudos, que nos garantam que caminhamos certo”.

O Geração 21 já beneficiou 40 mil menores carentes, com programas de saúde, educação, lazer e esporte. Este atendimento é feito, principalmente, através de creches, situadas em áreas de menor poder aquisitivo. Citamos algumas creches que receberam verbas: Pequena Casa da Criança, na Vila Maria da Conceição; Associação Comunitária Morro da Cruz; Clube de Mães do Jardim Cascata, e muitas outras.

Chegamos ao Projeto Colibri, que trabalha com os meninos de rua, procurando assisti-los no campo social, de saúde e profissionalizante. Neste sentido foram atendidos quatro mil jornaleiros e seus familiares. Que recebem assistência através de convênios com o INAMPS, SESI e SMED.

Os projetos citados mostram que a preocupação maior da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho é a geração do ano 2000. Dona Ione e sua equipe apostam no futuro, e, trabalham para garantir melhores condições de vida para os meninos de hoje. Nem todos podem ter a seu lado, quando pequenos, uma mãe como Dona Ione. A regra geral, hoje, é mães que são obrigadas a passar o dia fora de casa, trabalhando para manter o orçamento familiar. Portanto, mais do que nunca é preciso implementar creches e escolas de duração integral. Esta é a luta da cidadã Ione Pacheco Sirotsky e a luta de todos os que acreditam que é possível mudar este País, apostando – com trabalho – em melhores dias para nossos filhos e netos.

Dona Ione tem um sonho: criar um grande conselho comunitário para o menor, onde o governo participe como parte, ao lado de representantes dos mais diversos segmentos da sociedade. Só assim, a política para o menor não sofrerá constantes modificações, a cada mudança de governo. Concordamos mais uma vez com Dona Ione: seu sonho é o nosso. Vamos lutar juntos para criar este conselho e ver os projetos seguirem seus rumos, apresentarem resultados, sem a interferência de interesses políticos, que paralisem bons projetos como aconteceu com os CIEMS.

Termino dizendo que me orgulho de ser o porta voz da comunidade que lembrou o trabalho de Dona Ione, um vasto e apaixonado exercício em favor de melhores condições de vida para todos. Dona Ione, a luta continua. Esperamos que a Senhora continue muito forte, como sempre tem demonstrado ser. Muito obrigado.” (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Vamos fazer mais algumas citações dos presentes, para nossa satisfação, Dep. Germano Bonow; Dep. Sanchotene Felice; Jornalista Wilson Muller, representando a ARI; Profª Marlene Machado, representando a 1ª Delegacia de Educação; Sr. Airton Kneipp, Chefe da Polícia Civil; Profª Virgínia, representando a Secretaria de Educação; Dr. Otávio Gadré, prazer em recebê-lo nesta Casa, Presidente da Rede Pampa de Televisão; Dra Mila Cauduro, e os companheiros, ex-Vereador, e sempre querido desta Casa, Paulo Sant’Anna, Lauro Quadros e tantos outros; Maria do Carmo.

O próximo orador é o Ver. Artur Zanella, que fala pela sua Bancada, o PFL. Registramos a presença, também, do nosso amigo Ranzolin, prazer em vê-lo.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Ver. Valdir Fraga, Ione Pacheco Sirotsky, Sra Rita Sirotsky, meus senhores e minhas senhoras.

 O Wilton Araújo já fez quase tudo, quando solicitou a concessão, aprovada por esta Casa, do título à Dona Ione. E, praticamente, já disse quase tudo que deveria ter sido dito, porque esta é uma das regras da Casa. Aquele que pede a cessão e a concessão normalmente, quase esgota o assunto. Mas nós, e eu, especialmente, precisamos dar o testemunho e apreço que temos pela Dona Ione, tanto pelo que ela representa quanto pelas pessoas que aqui estão. Se eu tivesse hoje de definir esta Sessão, eu diria que é uma Sessão magna, quase todo o Porto Alegre, o Rio Grande importante está aqui.

A minha cadeira ali, a única cadeira do meu Partido, o chefe do clã, Jaime; Dr. Isaac, vou citar porque quase nunca vem aqui, e tantos outros. Os comunicadores que aqui estão são tantos que eu só pude falar com a Maria do Carmo, com a Vera Armando, com o Lauro e tantos outros que aqui estão e sempre nos levam a erros e à omissão porque todos têm que ser citados, principalmente no dia de hoje em que esta Casa resgata uma dívida que tinha com uma das pessoas mais representativas do nosso Estado.

Uma pessoa que, podendo simplesmente recolher-se, podendo simplesmente abstrair-se dos problemas sociais, não, vai à luta. Vai à luta, e eu me lembro dos tempos longínquos quando trabalhava no Departamento Municipal de Habitação, dos recados, das indicações que, às vezes, vinham do gabinete da Dona Ione, colocando as necessidades, os problemas; eu me lembro, quantas vezes Wilson Müller telefonava dizendo: “Estamos aqui, na “Zero Hora”, com umas pessoas que incendiaram a casa. O que é que se faz?” E eu achava aquilo tudo uma coisa significativa. Uma pessoa com tanto poder se preocupando com tantas coisas. Eu também faço questão de trazer este testemunho, porque as pessoas, às vezes, não sabem o que representa uma instituição como esta. Eu, por exemplo, poucos aqui sabem, eu cursei a minha Faculdade praticamente com os cachês que eu ganhava na Rádio Gaúcha, no setor de esportes, então, jovem estudante. Tenho certeza de que Dona Ione nem sabia disso, mas a minha formação, não que eu deva à Rádio Gaúcha, mas que ajudou, ajudou.

E é por isso, Dona Ione, que hoje, modestamente, depois de Wilton dizer quase tudo, eu trago a palavra do meu Partido, Partido da Frente Liberal, eu trago a palavra, tenho certeza, em nome de tantas pessoas, lá das vilas sofridas de Porto Alegre, beneficiadas com uma série de programas mantidos pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho. Em nome de muitos colegas que, talvez, não estejam aqui, também falo em nome deles, dizendo que hoje é um dia que consagra uma Câmara Municipal; hoje é um dia que resgata os nossos compromissos com o povo; e hoje é um dia, Dona Ione, que a gente tem uma satisfação imensa de vê-la aqui junto conosco com a sua alegria e a sua beleza. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: O Sr. João Dib fala pela sua Bancada o PDS.

 

O SR. JOÃO DIB: Exmo Sr. Presidente desta Casa Ver. Valdir Fraga, querida Dona Ione, homenageada desta Casa, dos seus amigos que aqui estão, mas que representam a Cidade, e também muita gente do interior do Estado, que estimo e aprecio.

Quis a vida e, como estudante, exercendo diferentes funções na vida pública desta Cidade, que eu, muitas vezes, palmilhasse caminhos da família Sirotsky. E aprendi a gostar, especialmente, do Maurício e do Jaime, com quem eu mais convivia. E, quando a gente aprende a gostar das pessoas, passa a observá-las com carinho e muita atenção.

Então, hoje, Dona Ione está sendo homenageada pela Cidade, quero relembrar que muitas vezes eu a observei também; e eu vi, então, como toda cidade deve ter na retina a figura da companheira, nos momentos de tristeza, tensão, quando a TV Gaúcha queimou e a Dona Ione dava a mão ao Maurício, uma excelente companheira, olhava para frente, e dizia “Nós vamos reconstruir e crescer muito mais”. Esta companheira me fez, também, observar, o momento que eu entendi que, para o Maurício, nos a que eu pude assistir, foi de mais alegria, foi no início desta década: Dona Ione recebia a Medalha de Porto Alegre e eu observava, não a Dona Ione, eu observada o Maurício. Foi o dia em que eu vi o Maurício mais alegre, mais vibrante, e ainda trocei com ele: “Tu não estás recebendo a homenagem, mas a Ione está”. Também vi o Maurício muito triste um dia, exatamente o dia em que a RBS dava ao Município uma escola, uma escola para deficientes, e o Maurício não pôde estar presente no meio do grupo onde estava o Prefeito Villela que recebia, porque ele sofria vendo aquilo. Mas também vi a mãe Ione vibrando quando o Nelson assumia a Presidência da ADVB. O orgulho da mãe era algo assim de extraordinário, tanto que eu, Prefeito, sentado à mesa, mandei um bilhete para o Nelson: “Olha a tua mãe, vê o que é a felicidade expressada nos olhos de alguém”, que vibrava porque o seu filho estava sendo reconhecido pela coletividade. E também a criatura humana que fazia sair dos seus olhos todo o carinho que ela conseguia ter também para com sua família, mas para aquele mais necessitado, desamparado e que precisava de apoio. Vi aquela senhora atenta, sofrendo com a dor de seus semelhantes e que dava a sua participação máxima no Movimento Gaúcho pelo Menor e hoje na Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho.

Então, esta criatura que conseguiu ser companheira, mãe, pode-se dizer: é mulher. E a esta mulher, a Cidade hoje homenageia. E a esta mulher, a Cidade pede que continue fazendo o que tem feito até agora. E a esta mulher, a Cidade pede que Deus dê longa vida para que cuide de seus netos, dos seus filhos e dos seus bisnetos, daqui a pouco. Porque de pessoas como a senhora nós precisamos; pessoas como a senhora nos dão tranqüilidade e certeza de que é possível resolver nossos problemas; pessoas como a senhora merecem todos os dias o nosso respeito e a nossa atenção. Em nome do meu Partido, Dona Ione, o PDS, eu quero lhe beijar a mão. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Omar Ferri, que fala pelas Bancadas do PSB, PCB e PT.

 

O SR. OMAR FERRI: Exmo Ver. Valdir Fraga, DD. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Srª Ione Pacheco Sirotsky, nossa DD. Homenageada; Sra Rita Sirotsky, matriarca da família; minhas Senhoras; meus Senhores; Srs. Vereadores aqui presentes; Srs. Deputados e demais autoridades.

Há um aforismo popular que diz que por detrás de um grande homem sempre há uma grande mulher. Eu que represento, nesta solenidade, o Partido Comunista e o Partido dos Trabalhadores, tinha uma outra imagem da Sra Ione Sirotsky e, falando, hoje, com o Lauro Hagemann, que me disse: “Ferri, essa Senhora tem um grande valor”. E eu acho que a recíproca está invertida aí, é que por detrás de uma grande mulher, tinha um grande homem. Porque, me dizia o Lauro: “Essa Senhora foi a inspiradora e quase que a própria realizadora de todas essas conquistas de caráter social de uma Fundação que, inicialmente, se chamou RBS e que hoje se chama Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho”.

Homenageio a Senhora como poderia, muito bem, homenagear seu falecido marido pela larga visão de conteúdo e de abrangência social, e de tal maneira que nós, da esquerda, embora tenhamos uma visão de uma outra perspectiva, nos esquecemos exatamente daquilo que a Fundação, que Senhora dirige tão brilhantemente, ocupa um espaço social de luta por uma população que, infelizmente, se marginalizou. A Senhora e a sua Fundação tratam de sanear e de recuperar essa lacuna social. A Fundação inspira dois projetos básicos. Tenho, infelizmente, que plagiar, em parte, o discurso brilhante do Ver. Wilton Araújo, porque considero nesse caso a validade da repetição. A Fundação inspira dois projetos básicos: o primeiro trata do Projeto Memória RBS, de caráter cultural que deu início, recentemente, ao Coral da RBS; o segundo, de caráter social, abrangente: o Projeto Geração 21, que visa apoiar o menor carente atendendo-o e dando-lhe assistência e orientação de um modo geral. Embutido nesses grandes projetos temos o Projeto Colibri que apóia os pequenos jornaleiros, incluindo apoio alimentar e educacional e, ainda, o Programa Paternidade Consciente que visa alcançar informações, especialmente aos adolescentes e mães de baixa renda. Sabemos que em setembro será inaugurado o Centro de Atendimento Integrado do Adolescente. O Complexo RBS hoje, certamente, seria menor se não pudesse ter contado com o decidido apoio e trabalho de Dona Ione Pacheco Sirotsky. Não foi por outras razões que a Fundação RBS foi agraciada em 1989 com o Prêmio ECO, conferido aos melhores projetos em nível nacional neste setor.

Portanto, está aí uma iniciativa social e pública altamente meritória e que não diria que está substituindo, mas complementa um objetivo de uma das atividades fundamentais do Estado, muitas vezes criticado por nós, uma crítica nossa, crítica justa porque quando diz: “Tudo pelo social” na realidade olvidando este setor não esquecido pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho.

Eu lembro as palavras ditas num Congresso de Arquitetura, a uns três ou quatro anos aqui nesta Cidade por um Arquiteto chamado Allgayer, que disse, que se as coisas continuarem assim como estão, com esse incrível desdobramento de recrudescimento e agravamento da problemática social, infelizmente: “as cidades marginais vão acabar engolindo as cidades oficiais”. Hoje, existe em Porto Alegre de 25 a 30% da população vivendo em favelas. Dizem, Dona Ione, que a partir do ano 2000 50% de nossa população vai viver em favela e nós os outros 50% vamos viver em sobressalto em virtude do perigo que os outros 50% vão representar para nós. Não há iniciativa individual em que pessoas ou empresas sejam capazes de resolver os grandes problemas socais que afligem o País como um todo, e, é incrível como o problema que  mais abastece o cinturão da miséria e a criminalidade que circunda as nossas cidades encontrou tanta resistência no Congresso Nacional: a reforma agrária. A solução passa pela adoção de medidas que são fundamentais para resolver a dívida interna e externa de forma para bancar e financiar a saúde e educação. Mas isto não quer dizer que a iniciativa particular ou privada não seja espetacularmente importante, na medida em que desperta a sociedade para a dimensão gigantesca dos problemas sociais, mas temos que, infelizmente, concluir que só medidas políticas de profundidade serão capazes de solucioná-los.

Acreditando neste País e tendo a esperança tão longínqua de que as coisas se modificam, se alterem para o bem estar e a felicidade de todos nós, esperamos, Dona Ione, e sabemos que a senhora é uma grande mulher que teve ao seu lado um grande homem. Esperamos que a senhora prossiga na sua luta, na sua coragem, na força irradiante nessa caminhada que visa melhorar a aflitiva situação da vida daqueles que até hoje a nossa sociedade não lhes deu importância que a senhora, que a Fundação Maurício Sirotski e a RBS lhes deu. Em nome do meu Partido, em nome do Partido dos Trabalhadores, em nome do Partido Comunista, o nosso muito obrigado e o nosso profundo aplauso. Muito obrigado.

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Edi Morelli, pelo PTB.

 

O SR. EDI MORELLI: Sr. Presidente, tomo a liberdade de quebrar o protocolo, porque esta homenagem me toma de enorme emoção e falo não apenas em nome do meu Partido - o Partido Trabalhista Brasileiro -, mas, tenho certeza, em nome da família RBS. Sinto-me emocionado por fazer parte integrante e atuante desta homenagem. Os Vereadores que me antecederam falaram sobre o trabalho da Dona Ione Pacheco Sirotsky. Por isto, estas duas folhas não são mais necessárias. Se não me falha a memória, esta é a décima segunda homenagem que a Dona Ione recebe no dia de hoje.

Deixo, então, de lado, a parte profissional da Dra Ione e passo, neste momento, a dirigir-me à mulher, à esposa, à mãe. A Dona Ione, a grande mulher na vida de Maurício Sirotsky, na criação dos filhos ela ocupou-se integralmente, já que o esposo ficava sempre à frente de seus afazeres, como empresário, proprietário de emissoras de rádio. (Lê.):

“Esta proximidade com os filhos fez com que, até hoje, eles conheçam a mãe apenas pelo olhar; seja quando algo não vai bem ou quando algo tem sua aprovação.

Mais do que mãe, uma superprotetora que chagava a discutir com o Dr. Silber, pediatra, sobre os medicamentos a serem administrados nas crianças; fato que levava o doutor a chamá-la carinhosamente de colega. Isto claro, era fruto da dedicação para com os filhos. Filhos que tratou com igualdade e continua tratando até hoje, sendo de seu costume sempre que presentear a um deles, presentear a todos os outros. Este carinho faz com que os filhos sejam todos ciumentos, em relação à mãe. É só Dona Ione dar um pouco mais de atenção para algum, que logo os demais a cercam, com medo de perderem seu espaço, o que jamais aconteceria.

Mesmo com todos os mimos, Dona Ione agia com rigor e assim garantiu a seus filhos uma educação exemplar e um preparo para a vida. Dona Ione sempre prezou a união da família. Possui até hoje um presente que ela deu ao esposo, uma cachorra amamentando quatro filhotes, de bronze. Segundo ela, tal objeto significa a união. Este sempre foi um dos presentes favoritos de Maurício.

Prestativa, jamais nega sua ajuda à alguém da família ou pessoa amiga. Aliás, como grandes amigas posso citar, especiais mesmo para Dona Ione: a Sra Berta Boianowisky, a Srª Raquel Ratmann, residente em São Paulo e a Sra Manita Heller, infelizmente já falecida.

Mas sempre foi na família que a mulher Ione se completou; principalmente no relacionamento com o marido, para o qual sempre dispensou palavras de apoio, de carinho, de incentivo. Quando mais jovem, Dona Ione foi uma grande cantora de programas de auditório”.

O Ver. Wilton Araújo salientou aqui os dotes artísticos, e eu vou mais longe Vereador, eu dizia que nos programas de auditório da cidade de Passo Fundo a Dona Ione tinha o seu espaço. (Lê.): “Chegou a receber um título devido a sua capacidade vocal; era anunciada como “A Cotovia da Serra”. Quando deixou os palcos, poucas pessoas privaram da satisfação de vê-la cantar. Nas festas que davam para os amigos, Dona Ione e Maurício cantavam para os convidados uma música muito especial para eles, que começa desta maneira: “um violão ao sereno; a luz do luar”.

Esta é a Ione mulher, e a Ione mãe que hoje esta Casa, que representa o povo de Porto Alegre, sente-se orgulhosa em homenagear, a mulher perola, eu diria mulher de ferro.

E tenho certeza, Dona Ione, de que o seu trabalho é coroado de êxito, porque tudo aquilo que se faz, seja na vida ou no que for, sempre se faz mais perfeito quando se faz com muito amor. Parabéns Dona Ione. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A seguir, com a palavra, o Ver. Clóvis Brum, pela Bancada do PMDB.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Sra Ione Pacheco Sirotsky, homenageada, Cidadã Emérita de Porto Alegre; Sra Rita Sirotsky, matriarca da família Sirotsky; Senhores, Senhoras, familiares da homenageada.

Desejo falar em nome do PMDB, Vereadores Airto Ferronato, Luiz Machado, Ver. João Bosco, repórter da RBS que assume esta Casa. Devo, inicialmente, dizer que realizamos às vezes quatro, cinco ou mais discursos por dia, nesta mesma tribuna, e que nem por isso as nossas mãos se umedecem, o coração bate mais forte ou ficamos com dificuldades para fazer o discurso; o discurso exige muito do orador, ele tem que fazer com que o orador se transponha deste local, que ele vá percorrer as profundidades das virtudes, das obras, das realizações da pessoa a quem se vai homenagear.

Por isso, inicialmente, eu posso garantir honra-nos muito o silêncio que agora, e aqui se faz, pois ele é o ritmo harmonioso daqueles que sabem nos escutar, generosamente, a atenção dos senhores faz maior a nossa responsabilidade, os méritos da pessoa que se homenageia exigem de nós uma oração mais profunda da alma, porque dizem das virtudes, das obras, das realizações; não só o feliz autor da proposta do Projeto, Ver. Wilton Araújo com tanto conhecimento disse, Ver. João Dib, Ver. Artur Zanella, Ver. Omar Ferri, Ver. Edi Morelli, e nos restou tão-somente dizer algumas coisas que exatamente exigem de nós uma reflexão da alma, uma reflexão do coração, e aí o orador tem que se transportar eu dizia, para a convivência da sua própria família, para poder dizer como vê a homenageada, inicialmente, como mãe. Mãe com todos aqueles cuidados e excessos que o Ver. Edi Morelli tão bem justificou; mãe zelosa, dedicada, que viu nascer, que viu criar, que educou, que forjou o caráter de seus filhos com uma participação exemplar do papel de mãe no convívio familiar.

Os senhores sabem que quando a gente fala de improviso, quando se fala da alma, evidentemente que no meu caso, as emoções às vezes também traem a gente, e aí é um pecado capital do orador. Ele não pode se deixar trair porque as virtudes, as qualidades, o que significa a Dona Ione para a sua família, sim, para a sociedade, sim, e não pensou só nos seus filhos. Ela não pensou tão-somente nos seus filhos, nem nos seus netos, mas ela foi além; ela pensou nos filhos de pais que nem conhece; ela pensou em milhares de crianças que recebem dela um trabalho importantíssimo, marcante.

As instituições que levaram a inspiração de Dona Ione estão aí a tornar felizes milhares de crianças, um trabalho digno de exemplo. Esse trabalho soma-se e justifica plenamente a concessão desse título e desta homenagem. Essas crianças que recebem esse trabalho de Dona Ione, amanhã, quando ela não estiver mais no nosso convívio, essas crianças serão homens e poderão dizer, como Angel Jara: “Eu conheci uma mulher que, pela imensidão do seu amor, tinha algo de Deus e, pela simplicidade dos seus cuidados, muito de anjo”. Eles poderão dizer que conheceram uma mulher, que viram uma mulher passar nas suas vidas que, quando frágil, possuía a bravura de um leão e, quando forte, temia ante o gemido de uma criança. Eles poderiam dizer ainda que viram uma mulher passar nas suas vidas que, quando culta, possuía a ignorância dos leigos e, quando inculta, possuía a inteligência dos sábios.

Eu diria, Dona Ione, que a Câmara Municipal de Porto Alegre resgata, assim, mais uma parcela do reconhecimento que deve a todas aquelas pessoas que se dedicam nesta ou naquela atividade e, no seu caso, na atividade social. Mãe amantíssima, esposa dedicada, obreira incansável, e nós diríamos que falamos da mulher Ione, que falamos da mãe Ione, que falamos da diretora das instituições sociais que atendem a milhares de crianças – Ione Sirotsky – mas, ainda continuamos na metade da Ione, exatamente na metade da sua pessoa, tal qual se disséssemos que estamos falando de um corpo sem alma, porque é humano e imperativa a necessidade que se diga que ela é o que é também porque teve ao seu lado o grande companheiro, e inspirador também, Maurício Sirotsky Sobrinho.

Costuma-se dizer que a vida é um grande comboio, com muitos vagões e com muitas estações, onde muitas vezes o trem pára e algumas pessoas desembarcam, outras seguem a viagem neste trem da vida. A Dona Ione continuou a viagem no trem da vida com um só propósito, de continuar inspirando os seus filhos, trabalhando ao lado dos seus companheiros das organizações que ajudou a fundar, que inspirou, que alimentou com amor, com dedicação, com exemplo, para transformar, para tornar palpável, para tornar presente, para tornar sólida toda aquela vida que antes da última estação construíram. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Pois bem, Jaime e Marlene Sirotsky, Nelson e Nara Sirotsky, Carlos e Suzana Meltzer, Marcos e Sônia Dvoskin, Fernando e Rosa Correa, Semih e Rosa Sirotsky; netos, sobrinhos e irmãos. E o nosso querido Pedro que não está conosco, está lá em Santa Catarina, mas longe hoje e nós o consideramos ele aqui do nosso lado, ele e a Márcia.

Chegou a hora de fazermos a homenagem através da entrega do Diploma, mas eu convido, com a sua permissão, os netos e o Ver. Wilton Araújo, para a entrega do Diploma, que diz o seguinte: (Lê o Diploma.)

Solicito ao Ver. Wilton Araújo e aos netos da Dona Ione que façam a entrega do Diploma à Dona Ione.

 

(Os netos e o Ver. Wilton Araújo fazem a entrega do Diploma.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Solicito à neta Tanis que entregue as flores em nome dos netos, dos filhos, e em nome da Casa.

 

(A neta faz a entrega das flores.)

 

O SR. PRESIDENTE: Passamos, agora, a palavra à Dona Ione Sirotsky Sobrinho, nossa homenageada.

 

A SRA. IONE PACHECO SIROTSKY: “A verdade é aquilo que todo homem precisa para viver e que ele não pode obter, nem adquirir de ninguém. Todo homem deve extraí-la, sempre nova, de seu próprio íntimo, do contrário ele se arruína. A verdade é, talvez, a própria vida”. Kafka

Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; minha querida sogra Dª Rita; Dr. Jair Soares, não é o ex-Governador que enxergo é o sempre e querido amigo; Prof. Tuiskon Dick, Vice-Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Drª Cléa Maria Carpes da Rocha, Presidente da OAB; demais autoridades presentes; Jaime e Marlene, meus amigos, meus cunhados, meus sócios, Ivar, Ivaneo, Ioni, meus irmãos amigos, Nelson, Carlos, Suzana, Sonia, Nara, meus filhos, meus netos queridos, hoje aqui presentes, meus amigos da RBS e da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores aqui presentes. (Lê.)

“A verdade é aquilo que todo homem precisa para viver e que ele não pode obter, nem adquirir de ninguém. Todo homem deve extraí-la, sempre nova, de seu próprio íntimo, do contrário ele se arruína. A verdade é, talvez, a própria vida”.

Desejaria, em primeiro lugar, agradecer, na pessoa do Ver. Wilton Araújo, a gentileza que esta Casa, que é a Casa do Povo de Porto Alegre, teve ao me distinguir com o título de Cidadã Emérita. Chegar, hoje aqui, por certo tem uma grande caminhada, que não pode ser esquecida. Esta caminhada foi percorrida por algumas estradas que a vida me apresentou.

Tudo começou em 1930, em Passo Fundo, quando lá chegavam duas famílias, vindas de São Luiz Gonzaga das Missões, onde eu nasci, e a outra de Erebango. Meu pai, Pedro dos Santos Pacheco, foi Promotor e, por exigência de seu ofício, palmilhou o Rio Grande do Sul, esteve em Bento Gonçalves, Lagoa Vermelha, São Borja, São Luiz Gonzaga das Missões. A outra família, que chegava, era a de Maurício – ele vinha com seus pais: José e Rita Sirotsky.

Minhas Estradas – Minhas Verdades

Minha Infância:

Recordo com emoção e carinho minha mãe, “Dona Judith”, professora pública e uma apaixonada pela música.

Lembro nossa grande família. Éramos seis irmãos. Papai, cedo começava com as suas lides de profissional liberal, nunca deixando de ler, antes, os jornais do dia. Mamãe seguia para a escola.

Foi dentro deste lar, nesse momento de minha vida, que recebi de meus pais e irmãos mais velhos a grande carga de amor que me ajudou, e muito, a percorrer minhas verdades futuras.

Minha adolescência:

Eu a vivi aqui, em Porto Alegre, fiz o meu curso secundário no Colégio Americano. A influência desta Escola na minha formação foi decisiva.

Voltando para Passo Fundo, passei a lecionar no Instituto Educacional. E foi, nesse momento, que Maurício e eu nos encontramos.

Casamos, em 1949 – começávamos, os dois, a percorrer a nossa estrada. A nossa nova verdade. Maurício queria dar continuidade à sua carreira de radialista, que havia começado em Passo Fundo na “ZYF – 5 uma das Emissoras Reunida”, dirigida por Arnaldo Ballvé.

Viemos para cá em 1950 para ficar. Trazíamos conosco uma filha de dois meses. Um cenário novo se abria. A luta numa Capital para um jovem idealista, que acreditava no que fazia. Trabalhou; lutou; acreditou e venceu.

Sua caminhada foi feita com seriedade e sempre com uma grande dose de otimismo e crença nos seres humanos, apesar dos inúmeros desafios que a vida lhe apresentou.

Porto Alegre, 1950, era, para nós, muito, muito grande. Moramos em ruas bonitas e tranqüilas como: Marquês do Herval, Francisco Ferrer, Giordano Bruno e Santa Terezinha.

Em 1956, nossa família já estava formada – quatro filhos: Suzana, Sônia, Nelson e Pedro. Foi a mais bela verdade que Deus nos deu. Com nossos filhos, íamos descobrindo a grande Capital. Com freqüência, aos sábados e domingos, andávamos pelo Parque da Redenção, onde nossas crianças corriam livres, com segurança e tranqüilidade. Não eram poucos os domingos que íamos lá nas Três Figueiras. Tomar um lanche e ver decolarem os aviões. Também, nossa imaginação ganhava asas com relação ao futuro. Momentos simples, saudáveis que ajudaram a alicerçar nossa família. Meus filhos livres, viveram uma infância feliz, sem conhecer o sentimento do medo, de receio, de uma cidade que, poucos anos depois, se tornaria cheia de violência. Hoje, com o coração apertado, vejo os meus netos e milhares de crianças crescendo sob o olhar angustiado e temeroso dos que lhe amam.

Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, é indispensável que eu percorra o passado, para explicar, pelo menos a mim mesma, por que recebo esta homenagem. Se me abro em confidências, é porque o momento me empurra à reflexão e à saudade. Esta, também, é uma hora das minhas verdades. Quero agradecer a unanimidade desta Casa ao conceder-me o título de Cidadã Emérita de Porto Alegre.

Há poucos dias, recorri ao novo dicionário do mestre Aurélio para buscar o verdadeiro sentido da expressão “Cidadão Emérito”. Cidadão é o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado ou no desempenho de seus deveres para com esse Estado. Emérito é o jubilado, aquele que é versado em sua ciência ou arte, o sábio, o insigne.

Cidadã realmente o sou: gozo dos meus direitos civis e políticos e procuro, sempre, não esquecer os meus deveres para com o Estado. Por entender que era o meu dever comecei, muito cedo, ao lado de Maurício, a participar de movimentos comunitários.

1962 – Um marco importante, nessa etapa, precisa ser destacado: a campanha “Faça Sorrir Uma Criança”. Proposta do Lions Clube Centro e apoiada pela Rádio e TV Gaúcha. Porto Alegre assumiu e uniu-se, de corpo e alma, a este trabalho, que resultou na creche “Casa de Assistência à Criança”. Esta entidade, há 25 anos, acolhe 140 menores de zero a seis anos e é mantida pela Igreja Metodista, até hoje.

1964 – Surgia o Movimento Gaúcho pelo Menor, através da Loja Maçônica “Estrela de Jerusalém”. Junto e através do MGM, pude aprender as verdadeiras diretrizes do trabalho voluntário e da importância de servir à comunidade. Com o passar dos anos, o trabalho foi intenso. E os resultados aí estão. O MGM comemora, este ano, 25 anos de serviço.

1986 – Ano que marcou profundamente nossas vidas. Maurício nos deixou. Mas ele continua presente, forte e vivo, dentro de todos nós. Inspirados no seu exemplo de vida, foi preciso continuar.

1987 – A Fundação RBS sofreu transformações e passou a receber o nome de seu fundador. Pelo estímulo, pelo apoio de meus filhos, assumi a Presidência da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, com o respaldo inconteste da nossa Rede Brasil Sul de Comunicações. Sentimos todos a necessidade permanente de dar continuidade ao que Maurício sempre fez em sua vida: trabalhar pela melhoria da qualidade de vida das pessoas. Trabalhar com dignidade e honradez.

Nesses dois anos e meio, a Fundação, além do desenvolvimento de programas culturais, como a criação da “Memória RBS”, e de ações integradas com a comunidade nas áreas de ensino, pesquisa, literatura, artes e informação, atua, também, junto à área de programas sociais como o “Geração 21”, o “Paternidade Consciente” e o “Colibri”.

Com o apoio de uma equipe dinâmica, implantamos o Programa “Colibri”, para atendimento aos jornaleiros da nossa “Zero Hora” e a seus familiares, o Programa “Geração 21”, atua hoje, intensamente, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Neste Estado, com ações diretas junto a instituições que atendem ao menor deficiente. Em ambos os Estados, temos contado com o apoio e a participação dinâmica da comunidade e de suas lideranças, o que tem sido fundamental para a obtenção dos resultados que nos propomos.

Em 1988, lançamos, felizmente, com imenso êxito e repercussão, o Programa “Paternidade Consciente”, que nada mais ambiciona do que um planejamento familiar, que faça amada e desejada a criança concebida com responsabilidades dos pais.

Perdoem-me se os fiz passar pelo ontem comigo. No entanto, seria impossível estar aqui hoje, receber esta honrosa homenagem, e deixar de lembrar como as coisas aconteceram. Como tudo na vida, sempre existe um começo. Nele aprendemos, crescemos e contribuímos com a nossa parte. Nada nasce pronto. É preciso, sempre, a coragem para começar, para recomeçar, para dar o primeiro passo e constatar que não estamos sozinhos. Que uma multidão nos acompanha, e que uma multidão, ainda maior, precisa de nós.

Repito: eu me considero uma cidadã. Não me considero, porém, emérita. É muito pouco o que, pessoalmente, tenho feito. Ninguém faz nada sozinho.

Cidadãos Eméritos são os membros desta Casa, são os Vereadores de Porto Alegre, cidadãos como eu, mas eméritos pela representatividade que assumem perante a opinião pública na escolha individual de cada um, por um contingente de eleitores. Votar e escolher são pressupostos básicos do regime democrático, assim como atuar, trabalhar, transformar-se na voz e nos anseios de cada simples cidadão-eleitor é o dever do legislador, da mais simples Câmara desse enorme País ao Plenário da Casa mais alta do Congresso Nacional. Cidadãos, sim, mas crescentemente eméritos na realização efetiva, absorvente e notável do mandato popular conquistado.

Se as dificuldades econômicas e sociais do Brasil são enormes, elas se materializam ao olhar e ao tato nas cidades deste País, tão cheio de riquezas, e com tantos problemas de administração. E Porto Alegre não é diferente: aí estão os cinturões de miséria que asfixiam o planejamento público. O que não podemos e não devemos é somente criticar. Juntemos os esforços, comunidade e poderes constituídos, para de mãos dadas trabalharmos em prol do bem comum, em prol de um Brasil mais promissor.

Srs. Vereadores, meus filhos, meus netos, meus familiares, meus amigos aqui reunidos. Estou grata, emocionada. Mas voltemos ao trabalho. Como escreveu o humorista e poeta italiano Petrarca “A vida foge e não se detém uma hora”. Enquanto pudermos agir, não perderemos o estímulo. Se há muito o que fazer, também é justo que se diga, há muitos que trabalham para uma Porto Alegre mais feliz.

E a vocês que quero, agora, me dirigir com toda a emoção deste momento, aliada ao assunto que quero abordar. Porto Alegre dentro das inúmeras homenagens que prestou à memória de Maurício, deu ao antigo Parque da Harmonia, o seu nome. De lá para cá, meus filhos, eu e a nossa RBS, continuamos à espera da definição da área física do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho para que possamos, através de investimentos próprios, oferecer a nossa contribuição material para colaborarmos no sentido da transformação do parque num lugar digno da sua dimensão e localização compatível ao nome de seu honrado patrono.

Por favor, atendam o nosso apelo e liberem o parque para que os ganhos sejam de Porto Alegre. Dentro em pouco, sairemos daqui, deixando o calor desta homenagem e do carinho de todos, para cumprir um compromisso de extrema responsabilidade. A emoção deste momento irá conosco e, certamente, a dividiremos com todos. Falamos do trabalho que a FMSS realizará, hoje e amanhã, à noite, no III Congresso Brasileiro de Adolescência, que está acontecendo em Porto Alegre.

Meus amigos, falamos do passado, de sonhos, de vivências, experiências. Falamos também do presente e do futuro. Estamos no final de um século. Muito mais do que isto – estamos entrando num novo tempo. Um novo tempo de desafios, ainda maiores, de ações viáveis, concretas, humanas – acima de tudo. Mais do que ontem, o homem luta, busca e espera por uma melhor qualidade de vida, por melhores oportunidades de ser autêntico, verdadeiro e, acima de tudo, útil à própria sociedade.

Em 30 de junho de 1970, quando Maurício e eu, recebemos o título de “Cidadãos de Porto Alegre”, ele afirmou, em seu agradecimento: “Se recebemos a homenagem, não podemos deixar de reconhecer que aumenta a nossa responsabilidade dentro da comunidade a que pertencemos. E juntos, Ione e eu, somos um só braço, uma só lágrima de emoção, quando nos fazem cidadãos desta terra que tanto amamos e de quem tanto recebemos”.

Sim, Maurício, a nossa responsabilidade aumentou, mais ainda, sem a tua presença. Estamos tentando dignificar a tua memória sempre e cada vez mais.

Na Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, acreditamos nisto. Eu diria mais: trabalhamos, com firmeza e esperança para a conquista deste novo tempo, que já tomou conta do viver das pessoas. É fundamental contribuir e participar, ativamente, da construção deste futuro tão próximo.

É imperativo, para todos nós, assumirmos o compromisso de preparar, com sabedoria e responsabilidade, a geração do século 21. Ela irá dirigir o destino do nosso Brasil e de nossas vidas. Saibamos com humildade, extrair de dentro de nós, as novas verdades que o mundo nos apresenta. É preciso enfrentá-las e tentarmos dar a nossa parcela de contribuição.

Sou-lhes grata, muito grata, por esta homenagem. Dedico-a a todos aqueles que comigo, de diferentes maneiras, compartilharam e compartilham do grande privilégio, que é: de servir aos seus semelhantes. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Anunciamos com muito prazer a homenagem do Coral da RBS, são apenas 30 elementos, e assistiremos de pé, mas estamos assumindo um compromisso com os Senhores, nós da Câmara Municipal de Porto Alegre, que dentro de 60 dias os companheiros da Mesa não precisarão levantar para ouvir e assistir o Coral da RBS, se Deus quiser estaremos no outro Plenário; a RBS pode anunciar e também a TV Pampa, que o esforço está sendo mantido.

 

(O Coral apresenta dois números.)

 

O SR. PRESIDENTE: E assim encerramos a presente Sessão Solene, agradecemos a presença de todos, e que sejam todos bem-vindos a esta Casa.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h49min.)

 

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